quarta-feira, 30 de março de 2011

ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA

por: Drª. Ellen Regina Mayhé Nunes

A alfabetização ecológica é apresentada por Fritjof Capra, no livro “A Teia da Vida, publicado em 1996, que destaca-se por abordar, de maneira sistêmica, temas importantes, originários de diferentes áreas do conhecimento, fundamentais para a discussão dos novos paradigmas. Em 2002 no livro “As Conexões Ocultas” na parte II “Os desafios do século XXI - Virando o Jogo”, Capra apresenta a Alfabetização Ecológica e o Projeto Ecológico, como os caminhos da sustentabilidade.
A alfabetização ecológica não é uma proposta de transformar a educação ambiental num processo de ensino e aprendizagem de ecologia, nem de reduzir sua abrangência e complexidade política, mas de contribuir para que a educação ambiental agregue às suas múltiplas dimensões, a alfabetização ecológica, como àquela que abarca a dimensão biológica do ser humano, considerado enquanto ser bio-psico-social.
Depois dos avanços da educação ambiental no âmbito político e social, representada pelas transformações e conquistas obtidas via cidadania e consciência ecológica, restringir a grandeza da educação ambiental aos aspectos biológicos do ambiente é desconhecer ou negar a própria historicidade da educação ambiental latino-americana.
Entendo a alfabetização ecológica como o início, ou a base do trabalho da educação ambiental. O que não significa também, que todo trabalho de educação ambiental deva obrigatoriamente ser iniciado pela alfabetização ecológica. A alfabetização ecológica propõe a permanência evolutiva da vida no planeta. Na realidade nos desafia a parar e a prestar atenção na nossa casa-terra, e a começar a estudar e compreender Gaia.
No início da educação ambiental, na metade da década de setenta, ainda se enfatizava seu aspecto ecológico. Uma das máximas mais repetidas ao longo das três últimas décadas do século vinte, afirma que é preciso “conhecer para preservar”, lema usado ainda hoje em muitos projetos e campanhas de educação ambiental.
O que deveria ser uma abordagem, passou a ser durante algum tempo uma linha de ação determinante e preponderante. A educação ambiental voltou-se quase que exclusivamente para as questões biológicas e ecológicas do ambiente, ligadas à biologia da preservação e conservação, descuidando dos aspectos políticos, sociais e econômicos determinantes para a situação que a educação ambiental criticava e queria modificar.
Assim a proposta de Capra, em realidade, resgata um aspecto importante dos primórdios da educação ambiental. Insisto, a proposta de alfabetizar a partir da natureza, não é por si só, educação ambiental. Pode ser considerada sua base, ou até um ponto de partida, na medida em que a alfabetização ecológica propõe que o conhecimento ocorra no ambiente e de forma prática. O que pode ocorrer através de experiências de interação dos indivíduos com a natureza e o ambiente, a partir de vivências individuais e coletivas, com base na cooperação.
O que Capra propõe é que a nossa espécie se reconecte através do conhecimento ecológico à teia da vida, pois segundo ele “é a compreensão dos princípios de organização que os ecossistemas desenvolveram para sustentar a natureza, que é o primeiro passo no caminho da sustentabilidade. O segundo são os projetos ecológicos”.
Aprender os princípios básicos da ecologia é um dos objetivos da alfabetização ecológica. Os seis princípios da ecologia - redes, ciclos, energia solar, alianças (parcerias), diversidade e equilíbrio dinâmico - que segundo Capra dizem respeito diretamente à sustentação da vida são estratégicos para a Alfabetização Ecológica.
Acredito que a Alfabetização Ecológica contribui para a conscientização ecológica da sociedade. Pode colaborar ainda na construção de uma sociedade ecologicamente viável e socialmente justa. Alcançar tal objetivo é um grande desafio da educação ambiental na medida em que as mudanças necessárias na sociedade são, em parte, reflexo das mudanças que ocorrem nos indivíduos, tornando-se mudanças que são ao mesmo tempo individuais e coletivas.
A Alfabetização Ecológica é a compreensão dos princípios de organização que os ecossistemas desenvolveram para sustentar a vida. Ensinar os princípios básicos da ecologia para nos tornarmos “ecologicamente alfabetizados”, conhecendo as diversas redes de interações que constituem a teia da vida, são objetivos da alfabetização ecológica. Através dela é possível compreender as múltiplas relações que se estabelecem entre todos os seres vivos e o ambiente onde vivem, e que tais relações, constituem a teia que sustenta a vida no
nosso planeta.
A sobrevivência da humanidade dependerá de nossa alfabetização ecológica (conhecimento dos princípios básicos da ecologia), da nossa capacidade para entender esses princípios (interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade, diversidade) e a sustentabilidade como conseqüência de todos. (Capra, 1996).

Nenhum comentário:

Postar um comentário